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Emílio Domingos: do pai, herdou o olhar sem distinções

Quando eu ouvi falar na dança do passinho, fiquei hipnotizada. Eu já havia pesquisado sobre os passos do treme no Pará em meus estudos sobre aparelhagens por lá. Foi quando a batalha bombou e eu entrei em contato com o Emílio, diretor do documentário “a Batalha do Passinho”. Na primeira oportunidade no Rio, marcamos um papo para falar sobre o vício que é ver esses moleques dançarem. Tudo começou em 2008. Emílio esbarrou em vídeos online do Passinho do Frevo, Passinho Foda e Passinho do Cidade Alta. Passou horas vendo tudo aquilo, sem saber nada sobre quem eram aqueles garotos que dançavam. Até que em 2011, em um evento sobre arte urbana chamado R.U.A, no SESC, ele encontrou os organizadores da Batalha que o convidaram para ser um dos jurados de uma competição. Emílio topou não julgar, mas sim registrar os quatro dias de dança. No primeiro dia, foi mesmo só um começo. Tantas crianças dançavam o passinho nas apresentações que Emílio se pegou pensando sobre aquele jeito de mexer e se expressar através do corpo que parece tão natural do carioca, como se a meninada já …

Manoel da Costa Lima: cantando a terra de Morena bonita que nunca lhe fez o mal

Quando o fotógrafo Celso Brandão nos contou sobre a Ilha do Ferro, foi logo dizendo aos músicos da trupe, Viquitor e Bruno, que levassem seus instrumentos e fizessem uma visita ao poeta popular e tocador de oito baixos, Manoel da Costa Lima. Costinha, como assina seus cordéis, é pai de Aberaldo, um dos artesãos mais conhecidos na Ilha. Sobre sua história, sabemos que fazia barcos e sua habilidade com a madeira inspirou o filho a ser escultor.  No primeiro encontro que tivemos com Aberaldo, perguntamos sobre seu pai. O filho comentou que o irmão também é músico e toca muito bem gaita, mas que o pai estava em luto, com a recente perda da esposa, e não tocava mais o oito baixos há uns dois anos. Sentimos a tristeza da ausência da mãe e nos atemos a poucas palavras sobre o assunto.  Fachada de luto da casa de Manoel. Na volta de Mata da Onça, uma região próxima à Ilha do Ferro, onde fomos conhecer um jovem artesão, nosso amigo e guia Dedé nos recomendou dar uma paradinha na “boca do …

Selma Maria: “o meu território sou eu”

Conheci Selma pesquisando sobre gambiarras. As tais gambiarras que não se definem no dicionário mas no cotidiano brasileiro de quem improvisa para criar, de quem coleciona cacarecos e reinventa objetos, de quem tem muita história para contar. Essa é Selma. “Tridimensional”, descreveu uma amiga em comum. Difícil um texto e fotos transmitirem seu jeito ambulante de viver em poesia. Vou arriscar. Ela me disse que tudo começou assim, de ver seu pai de chinelo, olhando para os próprios pés, cabeça baixa, com o ouvido colado no rádio, escutando um jogo do Palmeiras. Herdou a paixão pelo futebol. Herdou a mania de colecionar chinelos. Herdou a busca constante pelo que ela chama de “homens rústicos”, esses que vão em busca de lhe ensinar como fazer um brinquedo. Na tentativa de dar respostas às minhas perguntas, Selma entende muito sobre suas próprias andanças, sobre as suas pesquisas sobre brinquedos pelos sertões brasileiros, sobre suas coleções de objetos cotidianos, sobre sua paixão por palavras, poemas e livros, sobre sua vida para contar histórias. Seus carrinhos de exposições ambulantes Seu pai …