Em Pernambuco, a tradição de desbastar a umburana, arvore típica da Caatinga, para esculpir carrancas, imagens religiosas entre outras figuras, é mais forte em cidades do sertão como Petrolina. No agreste, esse saber é mais presente em Ibimirim. Entretanto, é em Buíque que reside um dos grandes nomes escultores: José Bezerra ou Zé Bezerra, como prefere ser chamado.
Nascido em 1952, Zé, há um pouco mais de uma década, conta que teve um sonho em que era chamado a realizar os trabalhos que faz atualmente. A partir daí, ele passou a olhar as madeiras que o cercavam e a intervir nelas. Essa “intervenção” na madeira feita por ele não ocorre na forma tradicional: “eu não crio nada, a coisa já está lá, eu só ajudo a fazê-la nascer”.
São bichos, corpos e rostos, esculpidos geralmente em toras de madeira encontradas na região. Não são figuras que remetem à leveza do nosso imaginário da arte feita à mão, ou arte dita popular. Pelo contrário, são esculturas que parecem lutar para emergir.
JB, como assina, atribui essa luta à sua própria vida. Filho de agricultor, foi lavrador: “Já arrumei muita confusão quando mais jovem também, até preso já fui. Mas, desde que comecei a trabalhar com a madeira, a paz e a felicidade tomam conta de mim e da minha família.” Zé já expôs suas obras em grandes galerias do Brasil e em países da Europa como França e Itália.
A música é outra grande paixão do artista. Toda vez que algum visitante chega, pega a zabumba e desenrola a cantar, mas sempre com originalidade, combina letras e canções de outros músicos consagrados com seu repente.
O Vale do Catimbau, com seus 62.300 hectares, abrange os municípios de Buíque, Ibimirim e Tupanatinga, entre o Agreste e o Sertão pernambucano. Entre as dificuldades do clima árido da região, ele tira seu fazer. Zé Bezerra é uma figura tão surpreendente quanto sua obra.
José Bezerra, 64, Vale do Catimbau, PE.
Por Tiago Silva, fotógrafo e andarilho, colaborador da Nossa Rede. Fotos: Tiago Silva.