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Brincante, por Hélia Scheppa

Ao criarmos uma Convocatória sobre Brincantes, nossa vontade era mesmo de entender o cotidiano desse agente da cultura popular. Queríamos ir até a sua casa, tomar um café, ver onde ele dorme, como ele guarda sua fantasia, como ele se prepara para os ensaios, como. Como é meio e caminho – um jeito andarilho de olhar. Foi por isso que nos encantamos tanto com o ensaio de Hélia Scheppa, fotógrafa pernambucana conhecida pelas reportagens dos jornais locais. O ensaio “Seu Martelo” faz parte de uma reportagem junto ao jornalista Mateus Araujo para o Jornal do Comercio e conta a história de Sebastião, um dos mais antigos Mateus (palhaços) do Cavalo-marinho da Zona da Mata: “…ele rompeu os limites do popular e também já adentrou na dança contemporânea. Durante oito anos, dividiu a cena com o Grupo Grial de Dança, em espetáculos como A barca e Castanho sua cor. Martelo cobra o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco que nunca conseguiu receber do Governo do Estado e reclama que “é muito difícil ser Mateus, porque você não é valorizado”. No entanto, …

Convocatória Brincante: ensaios selecionados

Em parceria com o Coletivo Nação e a Revista Raiz, lançamos uma Convocatória aberta para fotógrafos durante o mês de fevereiro em busca de estimular o olhar para a figura do brincante: O brincante é mais do que um festeiro, do que um folião, ele é um agente do brincar e atua de forma propositiva e criativa no fazer de uma manifestação cultural e popular. É ele quem cria as máscaras e as fantasias, desconstrói o ritmo dos tambores, reinventa as letras das marchinhas. É ele o corpo manifestante que ocupa a cultura como lugar de resistência, salvaguarda a herança recebida e a renova em seu próprio ato de brincar. Com o objetivo de conhecer alguns desses brincantes pelo país, recebemos em um mês mais de quarenta ensaios fotográficos sobre o tema. Entre eles, cinco se destacaram por fotografarem seus personagens de perto e para além das suas fronteiras geográficas: um boi bumbá urbano em Belo Horizonte; um bloco de carnaval do manguezal na cidade histórica de Paraty; grupos de reisados com influências afrobrasileiras no interior do Rio de Janeiro; um resistente palhaço do tradicional Cavalo-Marinho da Zona da Mata pernambucana e religiosos da …

I Encontro de Bois e Ursos de Arcoverde, por Tiago Henrique

Há alguns anos, no campo da cultura, o cuidado com o patrimônio  ferroviário ganhou evidência. Após a desativação de muitas ferrovias no Brasil devido, entre outras coisas, às dívidas contraídas pela Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima – RFFSA e ao desequilíbrio técnico-operacional decorrente da degradação da infraestrutura, entre os anos de 1980 e 1992, muitas ferrovias foram privatizadas e abandonadas. https://www.youtube.com/watch?v=p_4WPagxxfI Em Arcoverde, Sertão do Moxotó, Pernambuco, não foi diferente. A história da cidade perpassa também a da Estação Ferroviária Barão de Rio Branco. A estrada de ferro teria, segundo a prefeitura, intensificado o comércio e possibilitado a elevação da cidade à categoria de município. A Estação foi inaugurada em 1912 e desativada por volta da década de 1980. Após anos de abandono, em 17 de novembro de 2001, um grupo de artistas pulou, pela primeira vez, os muros da estação e desde então ocuparam o local com o objetivo de realizar atividades culturais. Em 2004 a estação foi certificada pelo governo federal como o primeiro ponto de cultura do Brasil. Passou a ser conhecida …

Por que você fotografa? Por Fábio Nascimento

Fábio Nascimento é mineiro e reside em São Paulo, mas você o encontra mesmo é pelo Brasil e pelo mundo contando histórias importantes através da fotografia. Sempre questionador, trabalhar com Fábio é treinar um olho crítico e atento. É inspirador saber de suas andanças e investigações sobre temas que abordam, em sua maioria, questões de minorias e sócio-ambientais. Em tempos de crimes ambientais tão graves acontecendo no Brasil, fico feliz em convidar Fábio para compartilhar um pouco sobre a importância de seu fazer: “Antes da Tempestade” Greenpeace Brasil Pará, Brasil, 2015. Como é fazer reportagens para, por exemplo, a National Geographic, Green Peace, Unesco/Museu do Índio? Te escrevo agora tendo voltado de uma série de viagens, documentando situações diversas, como a resistência do povo Munduruku contra o projeto de hidrelétricas no rio Tapajós, ou os índios Ka’apor se organizando de maneira autônoma para defender seu território de invasores madeireiros, ou ainda um web-documentário sobre energia solar. Bem, fazer essas reportagens, antes de mais nada, está muito ligado ao que me interessa, às pessoas, lugares e costumes com quais me importo. …

Super Casas, por Fabiana Moraes

Não conheci Fabiana pelos seus textos, mas sim pelas suas imagens – o que pode ser considerado um pecado. A jornalista pernambucana já lançou vários livros (Os Sertões, Nabuco em Pretos e Brancos, No País do Racismo Institucional e O Nascimento de Joicy) e, como reporter especial do Jornal do Commercio em Pernambuco, venceu recentemente o prêmio Petrobrás de Jornalismo com a série Casa Grande e Senzala. Foi através de fotos das casas que ela visita em reportagens que conheci seu olhar para o Brasil. Registros de andanças que ela reúne de forma irônica na hashtag #supercasas. Onde anúncios imobiliários de modernos apartamentos se encontram, Fabiana sapeca as imagens das mais belas casas populares. Só mesmo alguém atento às possibilidades de leituras que as redes sociais proporcionam para garantir o tom político tão inerente à este tema: a morada. • Como jornalista, de onde surgiu a ideia de fotografar casas pelo Brasil? Nunca tive nenhuma pretensão de fazer um levantamento sobre moradias populares. Mas, ao entrar tantas vezes nas casas das pessoas – já se vão mais de 15 anos pedindo licença e sentando nos sofás ou nos bancos …