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Mestres Navegantes, por Betão Aguiar

Eu tenho um sonho: conhecer a região do Cariri no Ceará. Tudo começou quando conheci o Mestres Navegantes, pesquisa de manifestações musicais tradicionais e populares pelo Brasil, idealizada pelo músico Betão Aguiar. Ao ver o vídeo de Mestra Margarida Guerreira, me encantei por conhecer uma região através de suas músicas e dos saberes de cada um desses Mestres. Na época, eu trabalhava na Trip Editora e soube que Betão Aguiar iria tocar em uma das festividades que estávamos organizando. Fui lá me apresentar para dizer: “Betão, esse trabalho de pesquisa e registro é muito importante”. Quando soube que muito foi inspirado também na figura de seu bisavô, fiquei ainda mais feliz em recebê-lo aqui no nosso Diário de Bordo: A ideia do projeto Mestres Navegantes surgiu do prazer de vivenciar a simplicidade, riqueza de espírito e musicalidade de mestres populares que tive oportunidade de conhecer nos últimos anos. Também nasceu do sonho que outros e outras pudessem ver e viver tais belezas ou, ao menos, sentir o gostinho, mesmo que não possam ir visitar pessoalmente os lugares onde vivem essas pessoas. …

Penitentes, por Guy Veloso

As crenças. Os ritos. A fé: tema que sempre achei central em pesquisas sobre a cultura brasileira. A consagrada série “Penitentes: dos Ritos de Sangue à Fascinação do Fim do Mundo” do fotógrafo paraense Guy Veloso me vem a mente. Um transe entre o documental e o espiritual, onde eu me sinto em uma intimidade absurda e proibida com o outro. Convidar Guy Veloso para falar sobre a criação dessa série seja, talvez, surreal: Iniciado em 2002, “Penitentes: dos Ritos de Sangue à Fascinação do Fim do Mundo”, curado por Rosely Nakagawa, tinha previsão de durar 13 anos. Mas para mim está sendo muito difícil “expulsar” este tema de minha mente, dado o envolvimento com as pessoas que é característico (creio) em meu trabalho. “Penitentes”, também chamados “Alimentadores das Almas”, são grupos laicos de caráter secreto que durante certas épocas do ano, saem noite adentro rezando pelos “espíritos sofredores”, geralmente cobrindo rostos com panos ou capuzes. Tive a sorte de, em 2010, ser o primeiro pesquisador a provar que estas confrarias de tradição oral, grande parte de difícil acesso ou até sigilosas, poderiam ocorrer nas 5 regiões …