Na Convocatória Brincante (realizada junto ao Coletivo Nação, com apoio da Revista Raiz), buscamos selecionar também jovens olhares, como o de Lucas Magalhães. O mineiro vivenciou em sua própria cidade, Belo Horizonte, na comunidade de Concórdia, manifestações culturais populares tradicionais do Congado. A relação com as crianças e com os jovens do local ressaltou a importância de seu olhar como também fotógrafo. Por aqui, entrevistamos mais sobre a sua pesquisa:
Como você chegou até a comunidade de Concórdia, em Belo Horizonte?
Cheguei ao Reinado Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário por meio de um projeto de pesquisa e extensão pela UEMG – Escola de Design. Durante a disciplina optativa “Antropologia Visual” do curso Bacharelado em Design Gráfico, conheci o trabalho da professora e pesquisadora Cristiane Gusmão Nery, que já vinha desenvolvendo projetos não só com o Reinado Treze de Maio, mas também com diversas Guardas de Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Belo Horizonte e região (Ibirité, Prudente de Morais e Conselheiro Lafaiete são algumas cidades em que também estivemos presentes).
O trabalho mais extenso com o Reinado Treze de Maio aconteceu devido a um grande interesse por parte de Dona Isabel e Belinha (sua filha) em organizar, criar e disponibilizar um acervo imagético e sonoro das Guardas de Moçambique e Congo, de modo a salvaguardar o patrimônio material e imaterial das Guardas.
Cresci em meio ao protestantismo e não tinha muito contato com outros tipos de manifestações religiosas. Já no primeiro festejo que participei fiquei completamente fascinado com o Reinado (amplamente conhecido como Congado). Tudo era muito novo para mim, o que antes eu conhecia apenas como “folclore” se tornou parte do meu cotidiano. Fiquei encantado (e ainda fico) com as fardas, os Reis e Rainhas, as bandeiras, os andores, diferentes tipos de guardas se encontrando com um fervor invejável, para louvar a Nossa Senhora do Rosário, e o fato de tudo isso acontecer todo ano em meio a cidade grande.
Acompanhei o Reinado Treze de Maio durante aproximadamente dois anos e meio, participando dos festejos que são realizados todo ano do dia primeiro a treze de maio, acompanhando as preparações para o festejo, participando de reuniões, dando retorno sobre o conteúdo que produzíamos durante o projeto e elaborando material gráfico (afinal, sou designer gráfico). Foi essa vivência que quis transmitir nesse trabalho, “vem viver isso comigo”. A partir do projeto de pesquisa e extensão pela UEMG/ED, nasceu o Fotolivro “Concórdia” (ainda não publicado).
Quem é a brincante Rainha Isabel do Reinado Treze de Maio?
Dona isabel (1939 – 2015) foi criada por sua mãe (carinhosamente conhecida como vovó Cassimira), cresceu e aprendeu a acreditar e a venerar nossa senhora do Rosário como Santa protetora dos negros. A cada graça recebida, festeja e fortalece o reinado de Minas. Foi grande articuladora e embaixadora do Reinado de Minas Gerais e grande mestra de cultura popular.
Após o falecimento de Vovó Cassimira, Dona Isabel herdou a coroa de Rainha Conga de sua mãe e se tornou a matriarca da família, sendo a responsável pela condução das festas do Reinado e das sessões do terreiro de umbanda até junho de 2015, quando veio a falecer. Foi rainha de Congo da Guarda Treze de Maio por 30 anos.
Lutou pelo fortalecimento das culturas populares, tendo como resultado deste esforço em 2014, o reconhecimento pelo prêmio “Mestres da Cultura Popular de Belo Horizonte”, que valoriza a atuação dos mestres e mestras da cultura popular, responsáveis pela transmissão e perpetuação de tradições que compõem o patrimônio cultural imaterial da capital mineira.
Em 1990 foi coroada como vice rainha Conga do Estado de Minas Gerais, e em agosto de 1997 foi coroada como Rainha Conga tornando-se a IV Rainha do Congo da Federação do Congado de Nossa Senhora do Rosário de Minas Gerais.
Para você, o que é “brincante”?
Brincante é aquele que demonstra sua personalidade de forma criativa, inteligente, que se torna uma referência, aquele que se alegra e reúne energia para poder festejar, (por exemplo, um festejo aos santos em agradecimento de uma graça recebida) que faz da sua celebração um modo de perpetuar uma cultura/tradição e que as pessoas tem orgulho em seguir.