Todas as publicações sobre: Escultura

Um encontro com Zé Bezerra, por Tiago Silva

Em Pernambuco, a tradição de desbastar a umburana, arvore típica da Caatinga, para esculpir carrancas, imagens religiosas entre outras figuras, é mais forte em cidades do sertão como Petrolina. No agreste, esse saber é mais presente em Ibimirim. Entretanto, é em Buíque que reside um dos grandes nomes escultores: José Bezerra ou Zé Bezerra, como prefere ser chamado. Nascido em 1952, Zé, há um pouco mais de uma década, conta que teve um sonho em que era chamado a realizar os trabalhos que faz atualmente. A partir daí, ele passou a olhar as madeiras que o cercavam e a intervir nelas. Essa “intervenção” na madeira feita por ele não ocorre na forma tradicional: “eu não crio nada, a coisa já está lá, eu só ajudo a fazê-la nascer”. São bichos, corpos e rostos, esculpidos geralmente em toras de madeira encontradas na região. Não são figuras que remetem à leveza do nosso imaginário da arte feita à mão, ou arte dita popular. Pelo contrário, são esculturas que parecem lutar para emergir. JB, como assina, atribui essa luta à sua própria …

Orgulho dos pais, Clemilton esculpe uma família

Quem trabalha com arte e cultura sabe. Quantas vezes você já foi desencorajado a seguir esses passos? Quantas pessoas já te chamaram a atenção para possíveis apertos financeiros, para as questões de ego, para algumas dificuldades? Em uma família de advogados, economistas e engenheiros, compreendo de alguma forma esse lugar. Por isso, conhecer Clemilton foi marcante. Quando nos falaram de um novo talento em Mata da Onça, região próxima à Ilha do Ferro, fomos lá conhecê-lo. Vilarejo lindo. Lindo. Essa paisagem vou guardar pra sempre na lembrança. Na fachada da casa, um brasão enorme do time da família: o Vasco. Um bar de um lado, uma morada do outro. Entramos na sala e a família toda veio nos receber. Clemilton é um moço jovem, tímido, quieto. Fica ao fundo buscando as esculturas de madeira a cada palavra alternada pelo pai e pela mãe. Sim, nunca vi pais mais orgulhosos. A cada pergunta que eu fazia eles disputavam qual peito era mais inflado de amor pelo talento do filho. Sabe aquela expressão “dá gosto”? Deu. Muitos dos …

Aberaldo e uma família em manifesto pela herança

Se existe um homem sertanejo, ele se chama Aberaldo. Conhecido pelo seu primeiro nome. Lardo, para a família e amigos próximos. Aberaldo Santos Costa Lima, nascido em Ilha do Ferro, Alagoas, é filho de Costinha, poeta e fazedor de barcos, sobre quem já contamos aqui. A padaria local só recebe pães um dia na semana e o mercado mesmo só em Pão de Açúcar, cidade do outro lado do rio. Por isso, é difícil ir à Ilha e não conhecer a casa de Aberaldo, afinal, é sua esposa, Vânia, quem recebe muitos dos visitantes para o café, almoço e janta que ela prepara todos os dias no fundo da casa, em uma mesa larga de madeira no quintal repleto de restos de galhos, raízes, folhas, casulos e troncos retorcidos, muitos à espera de Aberaldo e sua imaginação. Ateliê de Aberaldo, em Ilha do Ferro, Alagoas Enquanto Vânia nos recebe com sorriso largo e – só mesmo alguém que já visitou o sertão ou um interior de cerrado vai entender – com muita fatura nas refeições; Aberaldo senta-se no canto oposto da …

Petrônio e Yang: pai e filho esculpindo imaginários

Na estrada para Ilha do Ferro, Alagoas, avista-se o sítio Estrelo onde as obras de José Petrônio Farias dos Anjos são enfileiradas já no caminho de entrada para dizer: “bem vindos, aqui mora um artesão”. Ficamos na vontade de parar, mas só no retorno a Pão de Açúcar fomos fazer a visita. É ele quem acena para a gente entrar com um largo sorriso no rosto: “vocês passaram por aqui na segunda, não foi? eu avistei vocês”. Logo abre sua casa e mostra seu trabalho: cadeiras, bancos, mesas. Aprendeu com Mestre Fernando Rodrigues, já falecido artesão da Ilha, famoso por suas cadeiras de troncos retorcidos, importante incentivador de todos a fazer arte com a madeira. Petrônio conta que recebeu, certo dia, um desafio de Seu Fernando: “faça-me ex-votos de encomenda”. Pois fez e não parou mais.  O fantástico mundo das esculturas de Petrônio Farias. Gosto de tudo que vejo mas fico mesmo é curiosa com suas esculturas da entrada. Bichos de duas cabeças, olhos arregalados amarelados, dentes afiados, corpos retorcidos, cílios grandes, boca vermelha de sangue. “Minha arte é difícil de vender por que …