Brincante, por Guto Borges
Em uma festa do Boi no Morro do Querosene em São Paulo, uma amiga me disse: “vou ali brincar” e seguiu para a roda onde todos pulavam, dançavam, cantavam. Ouvir aquele verbo ser conjugado por adultos em territórios tão urbanos me causou um certo estranhamento. Estariam os corpos ocupantes das grandes cidades restritos aos shoppings e aos carros? Seriam eles “brincantes” apenas no carnaval e em algumas festas pontuais? Foi na fala do historiador Guto Borges sobre o carnaval de rua de Belo Horizonte que percebi: há muito que este corpo quer voltar a habitar às várias mãos, à pé, de bicicleta, de salto, de manhã ou à noite, na cidade, nas ruas, nas praças e, de preferência, de catraca livre. Afinal, o brincante é muito mais que um folião. Ele é o autor do não confinamento de seus desejos e manifestações — expressão criativa de transformações importantes. Mas o que significa ser um brincante hoje? Foi então que começamos nossas pesquisas por aqui e com uma entrevista com o mineiro que é um dos agentes e brincantes do carnaval de rua de BH: Como foi a sua infância? Do …