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Ambulantes, por Gabi Gusmão

Depois de ler o livro Rua dos Inventos de Gabi Gusmão, andar pelas ruas nunca mais foi do mesmo jeito. Todo o trabalho artístico de Gabi explora a relação entre natureza, espaço urbano e a dimensão temporal. Este, então, não poderia ser diferente. Toda a criatividade das ruas coletada por olhos atentos à riqueza Das gambiarras das bicicletas, carrinhos, isopores ambulantes ao mobiliário inventivo resultado de bricolagens e aglutinações de partes. Fico particularmente apaixonada pelos carrinhos de café da Bahia. Quando falamos em ambulante, este trabalho é o primeiro que me vem a mente: De onde surgiu a ideia de fazer o ensaio “Rua dos Inventos” que virou livro, exposições e site? A ideia foi se apresentando a cada esquina que eu dobrava e me surpreendia com a simplicidade das obras efêmeras que pareciam invisíveis ou desconfortáveis pra os demais passantes. Fui descobrindo o mundo através de um olhar para as traquitanas da rua e, claro, para os inventores perambulantes das traquitanas. Observar uma armação de objetos aparentemente precária me interessava mais do que muito produto embalado. Conte pra gente um pouco …

Por que você fotografa? Gabo Morales

Foi Claudio Silvano quem me apresentou o trabalho de Gabo Morales e algumas boas leituras sobre fotografia. Inspirada em um dos livros indicados, começo uma série de entrevistas: Por que você fotografa? Conheceremos uma São Paulo verde. Caminharemos pelo estado de Tocantis por estradas percorridas coletivamente. Iremos na direção dos movimentos imigratórios. Vamos transitar entre as fronteiras da fotografia documental e não documental. Tantos lugares para entender o motivo pelo qual o fotógrafo, Gabo Morales, é. Marsilac, SP Em seu trabalho autoral, Marsilac, você mostra uma São Paulo verde. Como você chegou ao local e à ideia de criar esse trabalho? Como é fazer esta pesquisa fotográfica durante mais de 5 anos? Eu estava em busca de um território onde trabalhar. Qualquer território, em qualquer sentido. Em 2012 tive uma pequena revelação quando fazia uma pauta como repórter fotográfico de um jornal. No extremo da Zona Leste, enquanto – eu e o motorista – aguardávamos a chegada de um personagem da reportagem, comecei a prestar atenção no movimento na rua. Era uma avenida comercial cujo nome desconheço até hoje. Bem …

Rio Grandes, por Pablo Pinheiro

Caminhando pelo Brasil, sempre me pego pensando como algumas pessoas possuem similaridades mesmo morando à distâncias grandes umas das outras. Como os gaúchos e os potiguares. Rio Grandes que têm em comum a figura do vaqueiro. Foi Iana Soares quem me mostrou o ensaio “Uma tradição nos Rios Grandes: a imagem do vaqueiro contemporâneo em transição”, do fotógrafo Pablo Pinheiro. Fiquei encantada com o seu olhar atual para a tradição e o paralelo que ele criou entre as diferentes culturas e regiões através das pessoas. Nesse ensaio em preto e branco, o humano é a nuance que transborda margens. Contemplado pelo XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, é sobre esse trabalho que Pablo relata seu processo criativo aqui: Uma coisa muito interessante de todo esse processo do RIO GRANDES foi, é e será, o meu envolvimento com a aprendizagem. Começa por eu ter tido uma formação na cidade, e em um determinado momento da minha vida, ter passado a perceber (também) o universo rural. Uma percepção que me gerou uma curiosidade, que me fez criar uma ação de conhecer e …

A luz do sertão nas marcas de gado e gentes, por Iana Soares

Quando eu vi o ensaio da jornalista e cientista social, Iana Soares, “Sertão a Ferro e Fogo”, traçando o trajeto das marcas do ferro pelo sertão cearense, não tive dúvida. Convidei-a para contar um pouco sobre este seu trabalho como editora de fotografia do jornal O Povo. Depois de ler sobre sua caminhada, fiquei com a impressão que esses passos deixaram também marcas em Iana, que seguiu solta de Fortaleza para Barcelona para fazer um mestrado, mas levando sempre o sertão em si: https://youtu.be/YcWXMbjKKy8 A dúvida e o desconhecido movem o passo e desenham os encontros dos que escolhemos o caminho do jornalismo. As histórias dos outros escrevem também a nossa, nas trilhas dos pés que pisam o asfalto e também a terra amarela, marrom e vermelha do semiárido nordestino. Se na vida colecionamos poucas certezas, uma das que costurei sob a pele é a de que o sertão é infinito. É o território do paradoxo e da invenção. Nos dias feitos de esperança, é sempre fim e recomeço. Chico Gomes, ferreiro habilidoso do distrito de Santa …

Vilanova Artigas, o arquiteto e a luz; por Laura Artigas

Como será ser neta de alguém tão importante para a história da arquitetura brasileira como Vilanova Artigas? Foi quando visitei a Ocupação Vilanova Artigas no Itaú Cultural que pensei em escrever para a cineasta Laura Artigas, sua neta, convidando-a para contar sobre a co-direção do documentário Vilanova Artigas, o arquiteto e a Luz. Por aqui ela compartilhou um texto escrito com muito carinho sobre todo esse seu processo de criação:  O professor de roteiro advertia que adaptar uma história real para a ficção pode ser uma tarefa árdua. Um roteiro de ficção precisa de uma estrutura, e de certa lógica, já os fatos da vida real nem sempre fazem sentido. Em 2009 me deparei com vida de Vilanova Artigas acumulada em caixas e pastas em um quatro na casa dos meus pais. Desenhos e mais desenhos. Artigas foi um arquiteto do “breve século XX”, segundo o conceito do historiador inglês Eric Hobsbawm. Ele nasceu durante a Primeira Guerra e morreu antes da queda do Muro de Berlim. Era comunista. E pôde viver a Guerra Fria que pautou …