Em visita à exposição “Bailes do Brasil”, me encontrei. Há alguns anos eu pesquiso sobre as “entidades” brasileiras e busco sedenta por esse olhar contemporâneo para a tradição. Um jeito de ver que não está viciado em regionalismos ou apenas nas tradições. Mas que consegue compreender que a nossa raiz é mais ampla – é também toda essa antropofagia de encontros de culturas. Olhar esse que traça nas fotos do I hate flash e Verger, nas músicas estrangeiras e brasileiras, no erudito e no popular, um ponto de conversão: o nosso modo de ser. Por aqui os curadores Jum Nakao e Ricardo Feldman se encontram para fazer um relato sobre o processo de fazer a exposição:
Não é apenas a terra ou a língua que nos une, são nossos trajes e trejeitos, nossos sons e movimentos, é a ginga suave de nossos pés.
Em geral, os registros da fotografia de moda não retratam o que realmente se tornou moda ou refletem os modos do povo de um país. Percebemos que o ato de se vestir, como forma ritualística e identitária, acontece com frequência por ocasião do baile.
O baile simbólico de nossa exposição nasce de nossas manifestações coletivas. Baile é convivência, celebração, reunião e a partir de seus ritmos e vibrações, provoca múltiplas possibilidades de encontros. Nossa pesquisa se orienta pela qualidade dos diálogos que ali ocorrem e pela beleza das perspectivas que se criam a partir dessas transversalidades: música, moda, dança, imagem, som e movimento.
Acreditamos que baile bom é baile cheio, por isso, selecionamos 230 fotografias que mostram o Brasil do início do século até os dias atuais. Uma congregação de olhares de fotógrafos estrangeiros e brasileiros, renomados e jovens, urbanos e rurais, de imagens feitas desde as primeiras câmeras fotográficas até celulares. Verger, Farkas, Barretão, Stupakoff, Mari Stockler, Dani Dacorso, entre outros, até coletivos atuais como Lost Art e I Hate Flash. Os mais diversos pontos de vista em tempo suspenso no salão, contrastando os mais distintos contextos e períodos.
As três primeiras áreas da exposição buscam leveza: imagens em diversos formatos, alturas e posições, parecem levitar soltas no ar. Cada uma dessas salas recebe uma trilha sonora que revisita seus universos musicais. Diversas influências estrangeiras entram nesse baile antropofágico, onde fica clara a capacidade de nós, brasileiros, transformarmos tudo com nosso ziriguidum.
Após esse passeio pelas três primeiras áreas onde o movimento está na música, decidimos criar uma inversão, uma edição de imagens de vídeo com passos de dança, swing e remelexos estampados nas roupas brancas. Alvejados como uma folha em branco, prontos para serem preenchidos de significados, estes figurinos são ao mesmo tempo personagem e cenografia de projeção, corpo e memória.
“Bailes do Brasil” tem a intenção de fazer com que o visitante encontre dentro de si seus pedacinhos de Brasil, seja pela vivência, ascendência ou simplesmente pelo batuque que vive e significa em cada um de nós brasileiros.
Por Jum Nakao e Ricardo Feldman
Fotos de divulgação
Exposição Bailes do Brasil
Onde: Solar Marquesa de Santos – Rua Roberto Simonsen, 136 – Sé, SP
Data: de 28 de junho a 25 de outubro de 2015.
Horário de visitação: de terça-feira a domingo, das 9 h às 17 h.
Mais informações: http://www.museudacidade.sp.