Hélio Oiticica precisava de um nome, e não podia ser qualquer um. Tinha que ser um que se movesse, uma palavra ambulante e inquieta, para pôr numa obra que só existiria se no corpo que dança. De ônibus andando pelo Rio de Janeiro, ele viu uma estrutura que achou a coisa mais linda; a casa um mendigo, em estacas e brevidade. No dia seguinte, havia evaporado. Sobrara apenas a placa, Parangolé.
No livro Estética da Ginga, a autora Paola Berenstein Jacques percorre com o leitor os caminhos tortuosos – por isso do samba – das favelas cariocas e sua profunda influência na criação de Hélio Oiticica. Foi na Mangueira que ele dissolveu-se em gente suada e conheceu o sexo. E foi nos labirintos das moradias perenes, por onde ambulava, que constitui-se artista, bravo, a construir para outros minotauros suas esculturas.
A ginga não é só objeto de estudo, mas maneira de fazê-lo. O livro, como a obra de Oiticica, oferece margens mas não limites de interpretação. Paola usa desde o Labirinto de Borges até a territorialização do mato em terreno baldio como remetente as casas que cobrem os morros. Cartografar a obra do artista inconstante é aceitar que o mapa sempre será móvel. Como diz Fernando Caieiro, no movimento da borboleta é o movimento que se move.
Cecília Garcia nasceu em São Paulo, onde mora e trabalha como jornalista. Filha de um pai inventor-gambiólogo-cientista e uma mãe que acredita-cuida de duendes, Ceci aprendeu a alimentar seus bichos internos e faz deles seres vivos criativos, que a ajudam a construir mundos fantásticos, um tanto orgânicos e labirínticos. Por aqui, é ela quem dá dicas de livros e filmes para o nosso Dicionário de Bolso Andarilha.